quinta-feira, 7 de julho de 2011

A MAGIA DOS ATABAQUES



Os tambores têm um alto poder mágico e ao tocá-los expressam a consagração espiritual. Eles ligam os iniciados ás divindades, o profano ao sagrado.
Para a raça negra, o atabaque representa o Logos: ao mesmo tempo rei, artesão, guerreiro ou caçador, como se numa voz múltipla, o ritmo vital da alma estivesse reunido nos momentos do toque.
No Brasil, especialmente nos terreiros de candomblé, verificamos a presença fundamental dos atabaques e dos Ogãs – padrinhos do culto africano ou brasileiro, ou seja, homens que tocam os atabaques sagrados, cuja missão é a de chamar as divindades para que seus adeptos entrem em transe.
São três tambores (pequeno, médio e grande) medindo entre 70 a 80 centímetros de comprimento e colocados na posição horizontal sobre um cavalete. Eles passam por uma série de estágios: purificação, preparação e conservação, feitos por Ogãs. Geralmente estão localizados ao lado do roncó (quarto onde se inicia os adeptos). Nenhum visitante pode permanecer neste local.
Nos dias em que não são realizadas as festas, os atabaques são cobertos com um pano branco, simbolizando o respeito.
É inadmissível que um convidado toque ou improvise algum tipo de som. O cuidado tem um fundamento religioso. Os sons produzidos possuem qualidades especiais, já que representam o caminho, a voz que invoca os orixás a saírem do seu universo para incorporarem nos seus adeptos, por isso, são tão respeitados. Muitos acreditam que o som produzido por eles seja a própria voz das divindades.
O Ogã não se limita apenas a produzir sons. Ele passa por um ritual de iniciação que se inicia aos 8, 10 anos, perdurando por toda a vida. No dia da festa, ele passa por um processo de purificação antes de tocar o seu instrumento sagrado: toma um banho com ervas próprias, além de respeitar algumas proibições alimentares. Também solicita a protecção do seu orixá protector, colocando diante do altar as oferendas que agradam ao seu deus pessoal.
Durante uma festa, é impossível não olhar para os Ogãs e seus atabaques. Além dos espectadores, os iniciados também estão constantemente olhando para eles, porque, dependendo do som, entrarão em transe.
Quando o orixá está em terra, a divindade vai até aos atabaques para reverenciá-los, demonstrando o seu apreço aos músicos. Dependendo do orixá, o ritmo é acelerado e a festa chega ao auge.
Depois, o orixá agradece aos Ogãs pelos seus esforços. Pelo facto de eles terem a missão de trazer os deuses africanos para o espaço mágico tocando os tambores míticos, todos os frequentadores expressam um enorme respeito aos Ogãs.

Texto de: Mónica Buonfiglio

sexta-feira, 1 de julho de 2011

EM ENTREVISTA - REGINALDO PRANDI


Uma das maiores autoridades no estudo das religiões afro no País, Reginaldo Prandi, autor do livro “Mitologia dos orixás”, explica a raiz histórica dos preconceitos contra a umbanda e o candomblé e alerta: há um projeto de aniquilação das tradições religiosas africanas no Brasil. E elas correm risco de serem extintas.
Confira alguns trechos da entrevista:

Como o senhor interpreta a imagem do candomblé na sociedade hoje?
O candomblé tem grande visibilidade no turismo, especialmente na Bahia e sua presença na música popular brasileira e em obras de artistas como Dorival Caymmi e Jorge Amado é muito grande. Mas também tem um aspecto cultural negativo de grande popularidade.

Qual é esse aspecto negativo?
É essa imagem de feitiço, coisa mal-feita e a relação com o diabo, que faz parte do imaginário. Quando as pessoas se referem a algo muito ruim, usam as palavras macumba, despacho, feitiço. É uma realidade superficial e distante da realidade mítica e ritualística de um terreiro.

Por que acontecem tantas disputas religiosas?
Toda religião é uma fonte de verdade e fica muito centrada em si mesma. Se você tem a sua verdade, a do outro está errada. Isso vale de católicos para evangélicos, de evangélicos para afro e até dentro do próprio candomblé. Além disso, algumas religiões tornam a conversão como parte da missão religiosa. Para ser um bom religioso, você tem que trazer para o seu credo e a sua verdade os outros credos que estariam todos errados. Religião é uma disputa, por isso há tantas guerras em nome da religião.

Mas algumas religiões são mais tolerantes do que outras…
O candomblé, por exemplo, é religião politeísta (que tem um panteão com vários deuses), como a grega e romana. Não há falta de mérito nisso. Existe a idéia de Deus supremo, criador, mas na maioria dos eventos do dia-a-dia, ele não interfere. Quem cuida do emprego é Xangô, da fertilidade, Oxum, e sucessivamente. As religiões politeístas têm facilidade de assimilar deuses estrangeiros e os trata em posição de igualdade. Embora seja extremamente próprio de cada religião defender a sua verdade como a única e combater a fé alheia, gerando uma grande possibilidade de conflitos e perseguições, o candomblé tem outra prática de aceitar o outro com mais facilidade. Prova disso é o sincretismo. Oxalá, por exemplo, foi sincretizado com Jesus Cristo.

Como o senhor vê o avanço da intolerância religiosa no Brasil?
Como cada denominação das religiões evangélicas se vê como grande verdade levada aos outros pela conversão, o proselitismo é muito grande. A tolerância não faz parte do universo deles. O alvo preferencial são os afro-brasileiros. Os católicos também são alvo, mas não se pode dizer que são demoníacos porque são igualmente cristãos. Já o afro pensa que a religião de todo mundo tem algo bom e interessante.

Qual sua visão sobre o futuro desses conflitos religiosos?
Mais de 90% do avanço pentecostal se faz em cima da religião católica e pequena parte em cima dos afro. Mas como são pequenininhos, o pouco que lhes é tirado representa muito. A umbanda está diminuindo de tamanho. Há favelas em que os terreiros foram extirpados. Uma quadrilha também pode se associar a um pastor e fechar todos os terreiros.O Brasil faz de conta que não está vendo. Isso se agrava porque o presidente da República tem relações de simpatia com algumas das igrejas mais agressivas. A umbanda e candomblé não são um parceiro político interessante. Quando entra nessa história é vítima. Já faz 20 anos que a umbanda vem diminuindo e cada vez mais por perseguição evangélica. Se esse processo não é estancado, o que vai acontecer?
Um dos maiores problemas enfrentados pelas comunidades de candomblé para sobreviver é a descentralização. Muitas vezes, há divergências sobre o culto e os rituais dentro das próprias nações. Já que as tradições afro, como diz Prandi, não são uma religião só, mas vários cultos, oriundos de diversos povos africanos, que foram trazidos para o Brasil. Confira a segunda parte da entrevista com o pesquisador

Reginaldo Prandi

 Fonte - Extra

GELÈDÈS - AFRICA


Esta dissertação constitui-se de um estudo da cultura material de origem africana em que se investiga a produção, circulação, utilização e descarte de objetos africanos e afro-inspirados, aos quais eventualmente no Brasil agregam-se novos significados. Tratamos particularmente de duas produções características dos iorubás: as máscaras gueledé e os edan ogboni. Alguns desses objetos constam em coleções no Brasil, e seu uso em cultos religiosos afro-brasileiros do Recôncavo Baiano, no passado, é mencionado na literatura especializada. Na Nigéria e no Benim as máscaras de madeira denominadas gueledé e as estatuetas de liga de cobre edan são insígnias de duas importantes instituições tradicionais dos iorubás: a associação Gueledé e a associação Ogboni, respectivamente. Esses objetos estão associados a entidades espirituais (Iyami e Onilé) que segundo a cosmogonia desse povo são as grandes mães ancestrais da humanidade. Alguns pesquisadores se valem da presença desses artefatos no Brasil para fundamentar a hipótese da reestruturação dessas instituições iorubás no Recôncavo Baiano, no final do período colonial. Outros autores, indo além, associam a suposta "sociedade Ogboni brasileira" com episódios das revoltas dos malês. Tomando-se a análise do ciclo de vida desses artefatos como instrumental metodológico, verificamos, no entanto, que o aparecimento dessas peças aqui no Brasil pode ter se dado não por causa da transplantação dessas instituições tradicionais africanas, mas por questões ligadas à permanência dos aspectos mais profundos da cosmologia iorubá dentro dos próprios terreiros de candomblé, e também pela disputa por reconhecimento e poder entre os mais antigos deles, evidenciando a potencialidade que esses artefatos têm de transmissão e preservação da memória coletiva de um terreiro. Neste estudo, além do ciclo de vida das peças, levam-se em consideração aspectos morfológico e tecnológicos da produção desses artefatos, em que se incluem os espaços que lhes são associados, bem como aspectos do universo simbólico que deu sentido a essas peças e animou seu ciclo de vida.

Fonte - Universidade Paulista - USP

RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS


Religiões de matriz africana são aquelas cuja essência teológica e filosófica seja as oriundas das tradicionais religiões vivenciadas no continente africano.
As religiões de matriz africana podem ser divididas em dois tipos: as religiões tradicionais africanas e as religiões afro-americanas.
As religiões tradicionais africanas são aquelas praticadas no continente, geralmente em zona rural e atualmente mais ligada às famílias. Cerca de 29% da população africana praticam suas religiões tradicionais. 35% praticam o cristianismo e outros 35% o islamismo. Cerca de 1% praticam outras religiões incluindo o hinduísmo.
As religiões afro-americanas estão divididas em dois grandes grupos:
1º - religiões afro-caribenhas: Vodu é o nome da religião afro no Haiti. Muito sincrética, é uma mistura de elementos da religião dos povos jeje – do antigo Daomé, hoje República do Benin, que cultuavam os vodun, divindades muito semelhantes aos orixás do povo vizinho, os iorubás – com a religião indígena das ilhas. Santería é o nome da religião afro em Cuba. O sincretismo aqui é com o catolicismo. Cultuam os orixás dos iorubás, que chamam de lucumi (nome antigo destes), é muito parecido com o candomblé. Também é chamado de Regla Del Ocha, ou simplesmente Regla. Seus praticantes são os santeros.
2º - religiões afro-brasileiras: Tambor de Mina é o nome da religião afro no Maranhão. Tem a mesma origem que o vodu haitiano, nos povos jejes (fon e ewe). O sacerdote máximo se chama Vodunon e os vodunsi são os praticantes. Xangô é o nome da divindade iorubá do trovão. Esta divindade é tão importante em Pernambuco que batiza a religião afro no Recife. Lá, os praticantes são chamados de xangozeiros. Candomblé é a religião afro-brasileira mais conhecida e celebrada. Se espraiou da Bahia para os outros estados chegando até mesmo no Rio Grande do Sul, onde já existia outra modalidade, o Batuque. Existem vários graus hierárquicos dentro de um candomblé: abiã (simpatizante), yaô (iniciado), egbomi (irmão mais velho com 7 anos de iniciado), titulares de cargos vitalícios como alaxé (guarda dos implementos sagrados), alabê (tocador de atabaques), axogun (sacrificador), yabassé (cozinheira), amorô (responsável por Exu), ekedi (cuida dos orixás manifestados), ogã (contribui materialmente com o terreiro), babalaô (adivinho) e babalorixá (pai-de-santo) ou yalorixá (mãe-de-santo). Macumba é o nome de um tambor de origem bantu utilizado em rituais dessa matriz africana no Rio de Janeiro. Devido a pejoração construída pela ICAR em torno da palavra, seus adeptos mudaram o nome para candomblé de angola. Neste tipo de candomblé se cultuam os inkice, divindades semelhantes aos orixás iorubás. Tata-ninkice e Mameto-ninkice são os cargos máximos. Batuque é o nome dado pelos brancos à religião afro no Rio Grande do Sul devido ao barulho dos tambores. É uma religião bem diferente das outras afro-brasileiras embora a base sendo a mesma: a cultura dos orixás. O sacerdócio é muito centralizado, sendo que o babalorixá ou yalorixá desempenham os papéis de pai-de-santo, sacrificador, é o responsável pelo Exu e também pelos implementos sagrados, e é o adivinho. Só existe uma categoria de omorixás: yaô.
'Candomblé' 'Umbanda' 'Tambor de Mina" 'Culto de Nação' 'Santeria' 'Palo Monte' 'Vodu' 'Maria Lionza'

Fonte Wikipédia
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